Vivre la Magie des Contes
Paris, Albin Michel, 1998
Excertos adaptados
Com as afirmações de infinito, de sentido e de Fecundidade que fazemos viver no nosso coração e na vida de todos os dias, permitimos que as nossas qualidades infinitas se possam exprimir e que possam atrair acontecimentos, oportunidades ou encontros que se lhes assemelhem.
A Serpente Branca
Era uma vez um rei, famoso pela sua sabedoria sem limites – ninguém conseguia esconder nada dele – que tinha um hábito curioso. Todos os dias, depois da refeição, começava a comer de uma terrina cujo conteúdo todos ignoravam, uma vez que o rei só comia quando estava sozinho. Após alguns meses, o criado que lhe trazia a terrina não conseguiu suportar mais a sua curiosidade e decidiu levantar a tampa da terrina. Dentro desta estava uma serpente branca. O criado cede ao desejo de provar da serpente e adquire o poder de compreender a linguagem dos animais. O rei põe-no imediatamente à prova ordenando-lhe, sob pena de o matar, que encontre um anel que a rainha perdeu. O que o rei deseja é sondar o coração do servo e saber de que forma acedeu ele ao seu segredo. Se o motivo foi o amor pelo rei, a vida não o deixará morrer. O criado encontra um pato que tinha engolido o anel da rainha e o rei quer recompensá-lo. Mas o criado quer partir pelo mundo, a fim de dar uso ao seu dom. Consegue salvar formigas, peixes e corvos, graças ao dom que tem de ouvir a aflição dos animais e de se empenhar no seu salvamento. Quando termina a sua volta pelo mundo, apresenta-se-lhe a possibilidade de conquistar uma bela princesa através de provas perigosas ou impossíveis. São os animais que salvou anteriormente que o vão socorrer. “Soubemos que procuravas a maçã de ouro”, dizem-lhe os corvos,” por isso voámos por cima dos oceanos até ao sítio onde cresce a árvore da vida e colhemos esta maçã.”O criado casa-se com a princesa e torna-se um rei omnisciente, como aquele a quem havia servido.
Chaves activas do conto
Este conto chama desde logo a nossa atenção para a forma como o rei assegura a transmissão do seu segredo: não é ele que julga o servo, mas a Fecundidade, ao serviço da qual ele se coloca. É a ela que ele confia a sua salvação miraculosa. O conto mostra-nos, em seguida, como o herói se torna o servo do dom recebido e o dissemina no mundo.
Uma vez que o dom permite escutar as infelicidades, obriga aquele que o possui a responder-lhes. O servo consagra-se plenamente à divulgação do dom no mundo. Ambos são apenas um. Como poderia, então, o mundo ignorar o apelo do servo quando este está em apuros?
A magia do dom, a magia do amor e do serviço do dom, a magia da gratidão dos animais formam apenas uma única magia, um espaço infinito de comunhão. A pertença total ao dom torna-nos semelhantes a ele e à sua magia. Uma vez que esta magia deriva do infinito das possibilidades, a identificação com o dom põe-nos em comunhão com tudo o que lhe diz respeito.
Se o herói persistir em manter o dom vivo no mundo; se, ao tornar-se rei, continuar a aliviar todas as aflições que ouve através do dom, ele próprio será ouvido nos seus pedidos de ajuda, e obterá sempre as respostas que lhe são vitais, “conhecendo assim o segredo de todas as coisa escondidas”.
Espelho do conto
Existe em nós uma presença afirmativa que atrai a Fecundidade para a nossa vida através de dons maravilhosos. Mas será que estes dons nos pertencem? Foram-nos dados para nossa própria satisfação ou foram-nos confiados para que nos ponhamos ao seu serviço?
O conto diz-nos que não devemos guardar só para nós os dons maravilhosos da existência. Devemos levá-los a todos e a toda a parte, como um serviço prestado à Fecundidade. Se conseguirmos fazer viver em nós o infinito que este dom representa, em breve a presença do infinito tornar-se-á em nós um estado dominante. Um estado de Fecundidade que brilhará à nossa volta.